A King’s Road, localizada em Chelsea, Londres, é uma rua que transcende a geografia para se transformar em um verdadeiro símbolo cultural, a rua se destacou como um refúgio para jovens inovadores, rebeldes e visionários da moda. São 3km de Sloane Square até Stamford Bridge.
Como o próprio nome sugere, a “Estrada do Rei” era uma via particular usada pelo Rei Charles II ao viajar para Kew Hampton e Hampton Court, permanecendo excluisiva da realeza e dos que carregaram um token especial com as iniciais do rei até 1830, quando tornou-se uma via pública e passou a atrair artistas, criativos e boêmios.
Hoje popular rua no comércio londrino, a King’s Road dos últimos anos remete às suas origens reais com aspectos de modernidade e riqueza, muito diferente dos movimentos de contracultura efervescentes do século XX que a tornaram famosa.
A Revolução Começa: Mary Quant e a Boutique Bazaar
It-Girl do Swinging Sixties Mary Quant foi a primeira a explorar o potencial comercial da região que um dia foi exclusiva da realeza ao abrir sua loja Bazaar no número 138a em 1955. Foi um hit instantâneo e ajudou a transformar a rua no epicentro do novo comportamento de comprar dos jovens londrinos, um comportamento baseado nas “Boutiques”, que expressavam diferentes estilos do que era legal.
Vitrine da Bazaar em 1961 (Foto: Mary Quant Archive)
It-Girl do Swinging Sixties Mary Quant foi a primeira a explorar o potencial comercial da região que um dia foi exclusiva da realeza ao abrir sua loja Bazaar no número 138a em 1955. Foi um hit instantâneo e ajudou a transformar a rua no epicentro do novo comportamento de comprar dos jovens londrinos, um comportamento baseado nas “Boutiques”, que expressavam diferentes estilos do que era legal.
Mary Quant desafiou normas sociais e inspirou uma nova atitude em relação à moda feminina, conhecida pela popularização da minissaia, a designer costumava se esconder para ouvir o que as pessoas que caminhavam pela rua diriam sobre seus manequins colocados de cabeça para baixo na vitrine. Sua boutique não era apenas um lugar para comprar roupas; era um espaço onde a criatividade e a rebeldia se encontravam.
“Queríamos que as pessoas parassem e olhassem”, escreveu Mary mais tarde. “Queríamos chocar as pessoas”, declaração que diz muito sobre o espírito de liberdade que impregnava o ambiente.
Modelo segurando uma sacola da Bazaar,1959 (Foto: Mary Quant Archive)
O sucesso da Bazaar foi imediato e avassalador. Em apenas dez dias após a abertura, as prateleiras estavam vazias. Quant criou um modelo de negócios baseado na produção contínua e no frescor constante de suas criações, uma dinâmica que se tornaria comum em outras boutiques da época, como a Biba de Barbara Hulanicki.
As Boutiques da King’s Road e o Zeitgeist de uma era
A Granny Takes a Trip tinha um carro serrado ao meio e soldado na vitrine que mudava de cor de acordo com a fachada da boutique (Foto: Reprodução Arquivo Vivienne WestWood Blog)
No final da década de 1960, a área considerada “sem graça e fora de moda” que Mary Quant havia começado a movimentar teve os merceeiros e ferrageiros tradicionais do bairro substituídos por boutiques de moda refletindo em suas vitrines a visualidade da cultura pop musical da época, tornando King’s Road o ponto de encontro entre música e moda.
Com um carro americano que parecia entrar pela janela, a Granny Takes a Trip surgiu em 1965 com a ideia de vender a coleção de roupas antigas de Sheila Cohen, que administrava a loja com seu namorado Nigel Waymouth e John Pearse, que usou sua experiência em Saville Row para acrecentar com seu know-how de alfaiataria às peças loja.
As roupas nos manequins imprimiam o nome da boutique: peças Art Nouveu eram ressignificadas sob a influência dos movimentos da contracultura e pelo LSD. Além dos artigos vintage, também haviam itens exclusivos feitos com materiais da Liberty.
A Granny Takes a Tirp fez parte da vanguarda que ditou a moda dos anos 1960 e influenciou o Swinging London. Incomum para a época, a loja era unissex e tinha um estilo sutilmente difenrente dos hippies e beatniks que ficou conhecido como Peocock ou Dandy, teria facilmente cativado Oscar Wilde como cliente, suas criações eram genuínas e ainda hoje são consideradas como uma representação do espírito do tempo daquela época.
A “Granny Takes a Trip” tinha um carro serrado ao meio e soldado na vitrine que mudava de cor de acordo com a fachada da boutique (Foto: Reprodução Arquivo Vivienne WestWood Blog)
Alkasura, 304 King’s Road em 1972 (Foto: Masayoshi Skita para a revista japonesa An An)
Nos anos 70, um endereço em Londres se tornou um verdadeiro templo para os amantes da moda alternativa e ousada: a boutique Alkasura, localizada na icônica King’s Road. Esta loja não era apenas um lugar para comprar roupas; era um espaço que refletia a essência da contracultura, um ponto de encontro para aqueles que buscavam se expressar através da moda de uma maneira única e autêntica.
Boutique fundada pleo designer Alan Holston, a Alkasura trouxe uma visão inovadora para o mundo da moda. Seu objetivo era criar roupas que transcendiam as tendências passageiras, focando em peças que fossem verdadeiras obras de arte, o que destacou a boutique no número 304 da King’s Road.
A Alkasura tinha uma estética distintiva. As roupas vendidas na boutique eram marcadas por um estilo boêmio e psicodélico, com uso abundante de cores vibrantes, padrões complexos e tecidos luxuosos e aplicação de trabalhos feitos à mão. Vestidos longos, túnicas e kaftans eram algumas das peças mais populares, muitas vezes adornadas com bordados intrincados e estampas inspiradas em culturas orientais. A atenção aos detalhes era evidente em cada peça.
Mais do que uma simples loja de roupas, a Alkasura era um espaço cultural. A boutique frequentemente organizava eventos e exposições, criando um ambiente onde a moda, a arte e a música se encontravam. Esses eventos atraíam uma multidão diversa, de artistas e músicos a fashionistas e boêmios.
A Alkasura também era conhecida por sua atmosfera acolhedora e inclusiva. Alan Holston e sua equipe faziam questão de criar um ambiente onde todos se sentissem bem-vindos, independentemente de seu estilo ou background. Esse espírito de comunidade e criatividade era palpável, fazendo da boutique refúgio para aqueles que buscavam algo diferente.
Fachada Mr. Freedom Kings Road (Foto: David Parkinson)
Interior da boutique Mr. Freedom na Kings road (Foto: do aquivo de Andrew Greaves)
A ideia de Roberts era desenhar e vender roupas que fossem o total oposto do que se usava nas ruas, as primeiras coleções eram uma mistura de prêt-à-porter e itens personalizados, com estampas e aplicações que desafiavam as convenções da moda tradicional vendidas em um ambiente criativo e descontraído que oferecia a experiência completa para quem buscava nas roupas uma forma de expressão.
Vitrine original mr freedom kings road (Foto: arquivo Andrew Greaves)
Trevor Myles em frente a boutique Paradise Garage King’s Road, 430 outono 1971.
A atmosfera construída atraia os artistas mais hypados da época, como Mick Jagger, que comprou uma camiseta estampada com seu signo, Leão, e a usou durante o infame show dos Rolling Stones no Altamont em dezembro de 1969. Até meados dos anos 1970 não era incomum esbarrar em personalidades da moda como Twiggy e Justin Villeneuve, Peter Sellers, Mick e Bianca Jagger, Elton John, Cher, Barbara Streisand, Olivia Newton-John, Elizabeth Taylor e Kansai Yamamoto (designer responsável pelo visual Ziggy Stardust de Bowie). A Mr. Freedom marcou a moda como uma das primeiras “lifestyle boutiques”, responsável por ajudar a levar a moda para os anos 1970.
A Paradise Garage ocupou o lugar da Mr. Freedom em maio de 1971, gerenciada por Trevor Myles quando a carreira de Tommy Roberts tomou outros rumos.
Conhecida pelo Slogan “Use the gear you already have” em tradução livre “use o equipmaneto que você já tem”, a boutique britânica foi a primeira a vender jeans usado de forma significativa. As araras estava cheias de jeans desbotados e desgastados, às vezes com apliques ou remendos,espostos com uma curadoria de peças vindas do um estoque parado que logo se tornaria familiar: camisas havaianas, jaquetas de beisebol e souvenirs, Osh Kosh B ‘Meu Deus, macacões, botas de pára-choque, cheongsams e assim por diante.
Kings road 1970-1971 fachada da loja Paradise Garage
“Let it Rock”, “Too Fast to Live, To Young To Die” e “Sex”, As muitas vidas da Word’s End e Epicentro do Punk em Londres
Apesar do potencial de vendas das roupas americanas e jeans antigos, Trevor Myles era inconstante e de acordo com Vivienne Westwood, que frequentava o número 430 da King’s Road desde a época da Mr. Freedom, em 1971 Myles sublocou os fundos da loja para Malcolm McLaren – então companheiro de Vivienne – e pouco depois se apaixonou por uma modelo sueca, casou-se e voltou muito tempo depois apenas para descobrir que a loja havia sido “colonoziada”. Assim o prédio que já foi uma loja de penhores, uma mercearia e uma das boutiques mais conceituais de uma década tornou-se o epicentro de uma revolução global na moda.
A ideia inicial era vender discos antigos que Vivienne e Malcolm garimpavam para a clientela de jovens que já frequentava o local, mas a medida em que a Let it Rock deixou de ser um estande nos fundos de uma boutique descolada e passou a ocupar o espaço, os discos foram substituídos por roupas de segunda mão, bugigangas e qualquer peça dos anos 1950 em que o então casal conseguisse colocar as mãos.
“Nós queríamos ação; procurávamos temas de rebelião e focávamos no rock and roll”, conta Vivienne.
A decoração da loja era uma declaração de rebeldia ao mundo, McLaren incorporou à decoração objetos efêmeros dos anos 1950: revistas, cartões postais e móveis e a jukebox deixada por Myles passou a tocar Eddie Cochran que reforçavam a estética das roupas recriadas por Vivienne.
Malcolm McLaren e Vivienne Westwood King’s Road, 430 Let it Rock
Vivienne garimpava calças e ternos dos anos 1950 e reprodozia os moldes, adicionando golas de veludo e fazendo uma combinação entre o vintage e a costumização. McLaren misturava moda, música e o cult que transformava a loja em uma espécie de instalação de arte.
Vivienne e Malcolm sabiam que hype do revival era temporário e rapidamente o estilo Teddy Boy começou a dar evoluir para a nova estética emergente: o Punk. Em 1972, a loja foi rebatizada como “Too Fast to Live, Too Young to Die”, as peças de couro tomaram conta da vitrine, jaquetas com zíper e t-shirts com slogans provocativos, um reflexo do ódio de McLaren por todo tipo de autoridade e sistema existente no mundo. Essa mudança de direção foi um prenúncio do impacto que Vivienne e Malcolm teriam na moda punk.
Pouco tempo depois, em 1974, a loja passou por mais uma transformação, tornando-se “Sex”. Com o slogan “Rubberwear for the Office”, a boutique vendeu roupas de fetiche, desafiando as convenções sociais e testando os limites da aceitação pública.
As t-shirts com slogans obscenos e imagens gráficas não só atraíram a atenção do público, mas também levaram Vivienne e Malcolm a enfrentarem processos judiciais sob a Lei de Publicações Obscenas de 1959. No entanto, em vez de recuar, eles usaram essa controvérsia como combustível para sua rebeldia criativa.
Capa de Revista, produção de moda realizada com peças Vivienne Westwood para a Let It Rock (Foto: Reprodução arquivo Vivienne WestWood Blog)
Pouco tempo depois, em 1974, a loja passou por mais uma transformação, tornando-se “Sex”. Com o slogan “Rubberwear for the Office”, a boutique vendeu roupas de fetiche, desafiando as convenções sociais e testando os limites da aceitação pública. As t-shirts com slogans obscenos e imagens gráficas não só atraíram a atenção do público, mas também levaram Vivienne e Malcolm a enfrentarem processos judiciais sob a Lei de Publicações Obscenas de 1959. No entanto, em vez de recuar, eles usaram essa controvérsia como combustível para sua rebeldia criativa.
O auge da influência de Vivienne e Malcolm na cena punk veio em 1976, quando a loja foi renomeada como “Seditionaries”. A loja se tornou um epicentro da moda punk, vendendo roupas que combinavam estética de fetiche com elementos de bricolagem. Inspirados pela cultura do faça-você-mesmo, eles transformaram zíperes, correias e alfinetes de segurança em ícones de estilo. A ascensão da banda Sex Pistols, gerenciada por Malcolm, ajudou a solidificar a conexão entre a loja e o movimento punk.]
Após o colapso dos Sex Pistols e a comercialização do punk, Vivienne sentiu a necessidade de se distanciar do mainstream. Em 1980, a loja foi reformada e renomeada como “World’s End”. Esta mudança marcou uma nova fase na carreira de Vivienne, onde ela se concentrou em criar peças que eram tanto artísticas quanto políticas. A loja se tornou um espaço para experimentar e desafiar as normas da moda. Vivienne usou suas criações para comunicar ideias e confrontar questões políticas e sociais. Uma das peças mais emblemáticas foi a camiseta Anarchy Shirt de 1977, que apresentava símbolos provocativos como a suástica e uma imagem invertida de Cristo, destinada a denunciar a corrupção e o autoritarismo.
Pouco tempo depois, em 1974, a loja passou por mais uma transformação, tornando-se “Sex”. Com o slogan “Rubberwear for the Office”, a boutique vendeu roupas de fetiche, desafiando as convenções sociais e testando os limites da aceitação pública. As t-shirts com slogans obscenos e imagens gráficas não só atraíram a atenção do público, mas também levaram Vivienne e Malcolm a enfrentarem processos judiciais sob a Lei de Publicações Obscenas de 1959. No entanto, em vez de recuar, eles usaram essa controvérsia como combustível para sua rebeldia criativa.
O auge da influência de Vivienne e Malcolm na cena punk veio em 1976, quando a loja foi renomeada como “Seditionaries”. A loja se tornou um epicentro da moda punk, vendendo roupas que combinavam estética de fetiche com elementos de bricolagem. Inspirados pela cultura do faça-você-mesmo, eles transformaram zíperes, correias e alfinetes de segurança em ícones de estilo. A ascensão da banda Sex Pistols, gerenciada por Malcolm, ajudou a solidificar a conexão entre a loja e o movimento punk.]
Após o colapso dos Sex Pistols e a comercialização do punk, Vivienne sentiu a necessidade de se distanciar do mainstream. Em 1980, a loja foi reformada e renomeada como “World’s End”. Esta mudança marcou uma nova fase na carreira de Vivienne, onde ela se concentrou em criar peças que eram tanto artísticas quanto políticas. A loja se tornou um espaço para experimentar e desafiar as normas da moda. Vivienne usou suas criações para comunicar ideias e confrontar questões políticas e sociais. Uma das peças mais emblemáticas foi a camiseta Anarchy Shirt de 1977, que apresentava símbolos provocativos como a suástica e uma imagem invertida de Cristo, destinada a denunciar a corrupção e o autoritarismo.
Capa de Revista, produção de moda realizada com peças Vivienne Westwood para a Let It Rock (Foto: Reprodução arquivo Vivienne WestWood Blog)
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